domingo, 17 de janeiro de 2021

 

UMA VIAGEM, UMA AVENTURA


Dia 01 de Janeiro de 1972. Depois dos festejos da entrada no Novo Ano tudo estava calmo no nosso quartel. Todos aqueles que se tinham excedido, copofonicamente falando, aproveitando o dia feriado ainda dormiam, outros deambulavam pela cidade. Eu era um destes. Estava a tomar o pequeno-almoço num dos cafés da cidade, quando sou surpreendido por um convite: Ir à cidade do Luso, claro ilegalmente, ou seja “desenfiado”.

Quem me sugeria a viagem era o Zé Henriques e o José Fernandes, este da Companhia de Transportes, que se faziam acompanhar por um civil, amigo, de quem por motivos óbvios não menciono o seu nome.

Perante a minha recusa, pois não tinha dinheiro, foi-me transmitido que isso não era problema, o civil suportaria todas as despesas. Hesitei, voltei a hesitar, mas lá me decidi, e passado pouco tempo lá estávamos em viagem. A mesma foi feita num FIAT 600 pertença do dito civil.

A viagem tinha vários riscos, iríamos estar fora do quartel dois dias, pois só voltaríamos no dia seguinte. Maior que este era a própria viagem. Eram 260 Kms e os últimos 100 normalmente eram feitos sob escolta, pois os perigos eram alguns. A escolta era feita ao principio da manhã, logo não iríamos ter a sua proteção.. Mas quem é que pára a força e a vontade de jovens irresponsáveis?

Paramos no Dala, onde almoçamos. Até aqui quem conduziu a viatura foi o seu dono. No reinicio da viagem ele deu a quem quisesse, a possibilidade de fazer a restante condução, do veículo, até ao destino. Eu recusei, embora encartado, o Zé Fernandes também. Quem o fez foi o Zé Henriques. O civil passou para o banco traseiro e posicionou-se no lado direito. Viagem sem problemas e no final, ele conhecedor da zona, com um certo tom de “gozo” disse-nos o porquê da sua atitude: quando havia ataques às viaturas eles costumavam acontecer do lado esquerdo das mesmas, ao passarem na zona da chamada serra do Bussaco. Ainda bem que nada aconteceu, eu ia desse lado.

Chegados à cidade do Luso, fomos encaminhados por ele para um Bar, que não era mais nem menos do que um bar de alterne, pois “senhoras” havia algumas e todas muito simpáticas..... Pelo maneira que fomos recebidos fiquei com ideia que ele seria um cliente habitual. Tomámos café e um bebida e após algum tempo de permanência resolvemos sair, mas ele ficou.

Visitamos a cidade e arranjamos uma pensão para dormir. À hora do jantar fomos ter com ele para nos acompanhar no mesmo. Nada conseguimos; disse-nos que comeria por lá qualquer coisa, dado que não tinha muito apetite. A nosso pedido abonou-nos um valor suficiente para fazermos face às despesas da pensão, da refeição e do combustível para o regresso.. Não o procuramos mais pois vimos que estava no seu “mundo”.

No dia seguinte, dia de regresso, tínhamos de vir incorporados na coluna militar, tenho a ideia que a partida foi às seis horas da manhã e era feita pelos Dragões. Fomos informados que sempre que a mesma foi feita por aqueles militares que nunca tinha havido problemas, portanto tudo seria calmo. Assim foi.

É nesse momento que o nosso companheiro de viagem nos aparece. A viatura estava em nosso poder e o depósito já atestado. Para ele deve ter sido, pelas suas palavras, uma noite bem passada (?), vinha um pouco enjoado e com poucas falas.

Chegamos ao Dala, fim da coluna militar, ficamos à nossa responsabilidade. Fomos tomar o pequeno-almoço e tivemos que ser nós a pagar o mesmo, até o dele, pois nada tinha na carteira.

Reiniciamos a viagem e com calma chegamos a Henrique de Carvalho. Não tinham dado pela nossa falta, Antes da partida pedimos a camaradas nossos para que nas formaturas respondessem por nós, caso houvesse necessidade. Também pelas nossas especialidades a algumas estávamos dispensados.

E foi assim, com um pouco de irresponsabilidade que tivemos dois dias diferentes, com algum prazer e que me ficou na memória.

(Carlos Amaral)


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