sábado, 29 de outubro de 2016

quarta-feira, 26 de outubro de 2016


ESCRITURÁRIOS

Estes eram os homens das canetas e das esferográficas. Tinham uma especialidade que todos aqueles que pretendiam uma vida, militar, mais calma desejavam. Pelas funções que desempenhavam, praticamente, estavam livres de serem operacionais. Na nossa companhia era vê-los pelas várias secretarias: da Companhia, do Comando, das Operações, etc, etc.

A sua formação, depois da recruta, era feita em Leiria, no Centro de Instrução Nacional de Amanuenses, antigo RAL4, integrando a seguir, na sua maioria, as várias Unidades que eram mobilizadas para o Ultramar.

Na foto que se apresenta, em baixo, não está presente o Furriel Frutuoso que tinha a especialidade de Amanuense, por não possuirmos qualquer foto sua. O último em baixo, à direita, não pertencendo à nossa Companhia desconhecemos o seu nome.
  
Em pé: Raul, Pinto, Relvas e Reis (Falecido)
Em baixo: Antero, Freitas(Murça), Adrião e ???????

Foto enviada por Raul




UMA DÚVIDA???????????

Que pretendem mostrar estes nossos amigos? Dotes futebolísticos ou as suas belas pernas para o efeito??????

Raul, Roque (PAD) e Serrão (Pel. Morteiros)


Foto enviada pelo Raul

segunda-feira, 24 de outubro de 2016



 
"PARA ANGOLA RAPIDAMENTE E EM FORÇA"


Foi esta a frase que Oliveira Salazar transmitiu ao País, após o primeiro ataque, em Luanda, feito por "Movimentos de Libertação" contra a Administração Colonial Portuguesa naquela cidade. Tal acontecimento marcou o início da Guerra Colonial. A seguir situações idênticas aconteceram em Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Esses movimentos viriam a ser apoiados por várias potencias internacionais. Tal conflito, que durou durante treze anos, provocou nas nossas forças 8803 mortos e 15507 portadores de deficiências várias;

MORTOS:


ANGOLA

1961/1974

3423

MOÇAMBIQUE

1964/1974

3099

GUINÉ – BISSAU

1963/1974

2281


Fontes:   “Correio da Manhã

                 ROINES XXI




domingo, 23 de outubro de 2016


DESERTORES


Notícia publicada no  
 com data de 21 de Outubro de 2016 que transcrevo:


O número de militares do Exército Português que desertaram entre 1961 e 1973 ultrapassou os oito mil, segundo uma investigação dos historiadores Miguel Cardina e Susana Martins que vai ser apresentada num colóquio sobre deserção e exílio.


"Este número, baseado em fontes militares, é um número que peca por defeito e refere-se ao período entre 1961 e 1973. É bastante acima de oito mil e é um número importante porque, até agora, não tínhamos dados sobre o pessoal já incorporado", disse à Lusa Miguel Cardina, um dos autores da análise histórica sobre o fenómeno da deserção da Guerra Colonial.

Miguel Cardina antecipou à Lusa algumas das conclusões do estudo que será apresentado na próxima quinta-feira na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, em Lisboa.

"Tínhamos algumas referências a números mas eram parcelares e faziam eco de um certo tipo de deserções. O que nós vamos mostrar é que a deserção é um fenómeno mais complexo do que aquilo que se considerava", explicou.

Os historiadores do Centro de Estudos Sociais (CES), da Universidade de Coimbra, vão apresentar os dados finais do estudo no colóquio "O (as)salto da memória: histórias, narrativas e silenciamentos da deserção e do exílio", que se realiza na quinta-feira.

De acordo com os investigadores, o número definitivo do novo estudo sobre militares que desertaram da Guerra Colonial "pode pecar por defeito" porque ainda não é possível contabilizar os dados referentes a todos os territórios e o estudo tem como base apenas fontes do Exército.

O Código de Justiça Militar definia como desertor aquele que não comparecia na instalação militar a que pertencia num prazo limite de oito dias.

Segundo Miguel Cardina, para compreender o fenómeno da recusa de ir à guerra, além dos militares que desertaram, é preciso também considerar os refratários - jovens que faziam a inspeção mas que fugiam antes da incorporação - e os faltosos, que nem sequer faziam a inspeção militar.

"Temos dados que indicam que entre 1967 e 1969 cerca de dois por cento dos jovens que são chamados à inspeção foram refratários. Este número é certamente superior ao número dos desertores. Os faltosos são aqueles que nem sequer se apresentam à inspeção. Dados de 1985 do Estado-Maior do Exército indicam que cerca de 200 mil terão abandonado o país. Na década de 1970, cerca de vinte por cento dos jovens que deveriam fazer a inspeção já não se encontravam no país", indicou o historiador do CES.

Para Miguel Cardina, o "processo de afastamento e fuga" da estrutura militar deve ser estudado com profundidade e, por isso, o estudo começa pelos desertores - porque não existiam números conhecidos até ao momento - mas frisou que é preciso considerar as outras categorias: os refratários e os faltosos.

"Temos de colocar estas três categorias na mesma equação, sabendo que elas são diferentes e têm uma ligação com o fenómeno da guerra, também ela diferente. É natural que, no quadro dos faltosos, a guerra possa estar presente mas não tem o mesmo peso que tem nos refratários e também nos desertores", explicou.

Segundo o historiador, o "fenómeno dos faltosos" cruza-se com o fenómeno da emigração, sendo que uma boa parte destes jovens não estavam a "fugir da guerra" mas também da falta de perspetivas de futuro, ou seja, "a guerra podia ser" uma das motivações para o ato de emigrar.

A primeira conclusão do estudo indica, sobretudo, que a Guerra Colonial tem ainda aspetos de natureza historiográfica que é preciso aprofundar e torna evidente que a temática do exílio, da deserção e da recusa da guerra precisa de ser estudada.

Para o historiador, a ação do Movimento das Forças Armadas (MFA), em 1974, "é sem dúvida central" mas o processo revolucionário que se desencadeia logo a seguir só pode ser compreendido se percebermos que havia forças políticas e sociais que vinham a construir uma outra forma de olhar o país e a construir uma contestação à ditadura e à guerra colonial.

Sobre os militares que desertaram, Miguel Cardina indicou que "todas as histórias de fuga são individuais" e que, por isso, devem ser tidos em conta os portugueses que vão para a África e que desertam das colónias, refugiando-se em Argel ou na Europa, assim como os africanos incorporados nas forças portuguesas.

Cardina frisou que, nos anos finais do conflito colonial, há um fenómeno de africanização das tropas, "porque havia pouca gente e, por isso, havia necessidade de soldados para a guerra", verificando-se que muitos africanos incorporados na tropa portuguesa constituem, em muitos casos, um fluxo específico de deserção.

O colóquio é organizado pela Associação dos Exilados Portugueses (AEP61-74), Centro de Documentação 25 de Abril, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA) e Instituto de História Contemporânea.

Vão estar presentes, além de Miguel Cardina e Susana Martins, os historiadores Rui Bebiano, do Centro de Documentação 25 de Abril, Victor Pereira, da Universidade de Pau, em França, e os historiadores Irene Pimentel, Sónia Ferreira, Cristina Santinho, Sónia Vespeira de Almeida e Cristina Santinho.

Sobre o tema, vê aqui: Catarina Gomes no Jornál "PÚBLICO" em 21ABR2016

domingo, 16 de outubro de 2016


COMPANHIA DE CAÇADORES 2698

O jornal "Correio da Manhã" na sua edição de 08 de Maio de 2016,  e da autoria do seu colaborador Leonel Ralha, publicou a narração, de alguns momentos vividos pelo do nosso camarada António Garcia, durante o tempo da sua comissão . Pelo seu interesse, transcrevemos essa citação.  


“Vi uma surucucu a 20 centímetros” 

Junto ao monumento do único morto que tivemos na nossa Companhia


Embarcámos no ‘Pátria’ a 27 de abril de 1970. Íamos no porão, abaixo do nível de água, e depois da Madeira mudei-me para o convés, onde se conseguia dormir. Lá em baixo, a higiene era pouca e o calor insuportável. Demorámos dez dias e dez noites a chegar a Luanda, onde nos meteram num comboio, que era mais para transporte de animais, para o Grafanil. Nos quatro ou cinco dias à espera de transporte, visitámos a fábrica da Cuca, para nos adoçarem o bico. Bebemos umas cervejadas. 

Partimos, passando por Vila Salazar e Malanje, onde dormimos. Deitei-me debaixo do autocarro, que estava mais fresco, e os nativos vieram pedir as sobras da ração. Havia lá muita miséria. No dia seguinte, 3 de junho, almoçámos em Henrique de Carvalho e fomos 180 quilómetros para o interior, até Chimbila, onde ficámos 18 meses.

 Não tínhamos ainda 24 horas no aquartelamento quando bateram à porta, às duas da madrugada, para levantarmos uma ração. Os ‘turras’ tinham assaltado uma sanzala e levado gente, e o meu pelotão foi escalado para seguir no encalço, com uma secção da companhia dos ‘velhinhos’. Fizemos 40 quilómetros de Unimog e começámos a perseguição, com ajuda de aldeões que tinham fugido. Em dois dias no mato, não conseguimos detetá-los e, ao ficarmos sem mantimentos, fomos para a sanzala do Peso. De manhã, foram buscar-nos e voltámos para o quartel. Passados dois dias, saiu outro pelotão e também não recuperou ninguém. Aliás, se eles fossem espertos, até à mão nos agarravam. A floresta é cerrada e tínhamos de ir em fila indiana, sem perder de vista o colega da frente.

 COBRAS NO CAPIM 

O meu pelotão fez outra operação para tentar apanhar um comandante da guerrilha, a quem chamavam o ‘Paciência’, e que tinha muita tática de guerra, na zona do rio Casange, a 80 quilómetros do aquartelamento. Certa vez, estava eu deitado no capim, a descansar, encostado ao saco dos mantimentos, quando ouvi um ruído estranho. Levantei-me, devagarinho, e vi uma surucucu a 20 centímetros de mim. A gente não podia dar fogo, mas o guia matou-a à paulada. 

Algum tempo depois, estando a dormir, encostado a uma árvore, acordei com uma cobra preta perto da cabeça. Calquei-a com as botas de cabedal que levava nas saídas para a mata. Só de manhã vi que tinha uns 60 centímetros. Apanhei uns sustozitos.

 Havia no aquartelamento uma companhia de artilharia a dar apoio à construção de uma estrada. E nós protegíamos os condutores dos camiões que levavam terra para a niveladora. Os ‘turras’ fizeram umas rajadas e feriram um condutor. E a 28 de novembro de 1971, na povoação de Samaína, rebentou uma mina, que matou o Cruz, único da companhia a morrer. Não era para estar ali nesse dia, mas trocou com outro. Também morreu um soldado da companhia de artilharia.

 Era muito duro, mas os últimos meses, em Dundo, onde estava a sede da Diamang, já foram umas férias. Tínhamos um dia por semana para usar a piscina, outro dia para ir ao cinema, eletricidade e assistência médica. Em Chimbila, passou-se muita fome e muita sede. Tínhamos de ir buscar água potável a 20 quilómetros do aquartelamento. 

Regressámos a 26 de junho de 1972. Mas para cá já viemos de avião. Seis horas de viagem em vez de dez dias. 


  ANTÓNIO GARCIA   Comissão   Angola (1970-1972) Força   Companhia de Caçadores 2698 Atualidade Tem 67 anos, é aposentado. Casado, tem um filho