quinta-feira, 25 de junho de 2009

LEVANTAMENTO DE RANCHO? NÃO

  • Comia-se muito mal naquele refeitório. Fraco e pouco. Todos nós sentiamos um mal estar, muito grande, quando iamos ao refeitório. Este descontentamento levou a que durante a tarde 14 de Setembro de 1970 andasse uma das "vitimas", que não pertencia à nossa companhia, a influenciar para que ao jantar ninguém comesse. Tal gerou alguma expectativa, e à entrada para o refeitório havia algum barulho a mais do que o habitual. Não sei se o oficial de dia tinha conhecimento do assunto. Se tinha não teve a perpiscácia suficiente para lidar com o mesmo, pelo contrário, chegou mais fogo à fogueira. Não queria barulho, barulho havia sempre, e resolveu pôr toda a gente em sentido durante mais de cinco minutos. Deu ordem para não serem entregues as licenças de recolher e informou que não deixaria sair ninguém do quartel. Entretanto, mandou sentar e ninguém se sentou. Mandou entregar as dispensas, e também, não resultou. Percebeu que não conseguia controlar a situação, tinha perdido o poder que a função lhe dava. Resolveu mandar chamar um graduado acima de si, que ainda estivesse no quartel. Veio o Major Carvalhais, pessoa respeitada por todos. Este deu ordens de sentido, sentido correcto, deu uma volta ao refeitório, deu uns safanões a quem não estava como ele queria e ao fim de alguns minutos mandou sentar. Houve uma certa hesitação, mas à sua segunda ordem todos se sentaram e comeram. Para cúmulo a refeição não era das piores que apresentavam.
  • Claro que o caso não morreu aqui. Conseguiram saber quem foram os mentores e o considerado principal esteve preso cerca de 20 dias. O processo seguiu para Luanda. Nada mais soube do que se passou a seguir. O militar em causa já tinha acabado a comissão e aguardava embarque.
  • A não nomeação do nome do oficial de dia em causa é intencional. Não pretendo com a crónica ferir a sua dignidade, mas somente dar a conhecer um caso que pertence à nossa história.
(Tirado do meu baú de recordações)

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