TRAJAR À CIVIL
Estávamos em Novembro de 1971 e já nos considerávamos uns "velhinhos" nas andanças em que nos tinham metido. As nossa roupas militares pelo uso, excessivo, já tinham um aspecto bastante degradado, mas a elas não podíamos fugir. Mesmo aos Domingos, nas saídas do quartel, tínhamos, claro os praças e cabos, de sair fardados. Havia, no entanto, uma excepção: estavam autorizados seis desses postos a puderem sair trajados com a sua roupa civil. Metia-se uma licença para o efeito, mas dado o grande número de pretendentes, era feito um rateio, e lá havia uns felizardos ou "amigos" a quem a sorte batia à porta. Um pequeno nada mas que tinha um valor muito grande para quem o conseguia.
Claro que quem estivesse atento, facilmente se apercebia, que pelas ruas da cidade, em tais dias, havia muitos mais dos que os autorizados, em tais condições. Ninguém via mal nisso, até pelo contrário: os infringidores sentiam a sua moral elevada e a cidade deixava de ter um ambiente tão esverdeado. Não podemos esquecer que a maioria da sua população era militar.
Os que tinham estabelecido tais regras assim não pensavam, como é óbvio, dessa forma, e num dos giros que o nosso 2º Comandante fez pela cidade constatou o que se estava a passar. E, logo no dia seguinte, ordenou que as "rondas" estivessem atentas, interpelando todos os que assim não pudessem andar, e verificar da sua legalidade quanto à forma de se vestir.
Não ponho em causa o cumprimento dessas regras, mas faço-o quanto aos seus objectivos, perguntando: o que ganhou, com tais incongruências, a causa que nos levaram a servir ?
Amaral e Vieira (Ambas as versões) |
Texto - Carlos Amaral
"Meu Baú de Memórias"
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