UMA VIAGEM, UMA AVENTURA
Dia 01 de Janeiro de
1972. Depois dos festejos da entrada no
Novo Ano tudo estava calmo no nosso
quartel. Todos aqueles que se tinham excedido, copofonicamente
falando, aproveitando o dia feriado ainda dormiam, outros
deambulavam pela cidade. Eu era um destes. Estava a tomar o
pequeno-almoço num dos cafés da cidade, quando sou surpreendido por
um convite: Ir à cidade do Luso, claro ilegalmente, ou seja
“desenfiado”.
Quem me sugeria a
viagem era o Zé Henriques e o José Fernandes, este da Companhia de
Transportes, que se faziam acompanhar por um civil, amigo, de quem
por motivos óbvios não menciono o seu nome.
Perante a minha
recusa, pois não tinha dinheiro, foi-me transmitido que isso não
era problema, o civil suportaria todas as despesas. Hesitei, voltei a
hesitar, mas lá me decidi, e passado pouco tempo lá estávamos em
viagem. A mesma foi feita num FIAT 600 pertença do dito civil.
A viagem tinha vários
riscos, iríamos estar fora do quartel dois dias, pois só
voltaríamos no dia seguinte. Maior que este era a própria viagem.
Eram 260 Kms e os últimos 100 normalmente eram feitos sob escolta,
pois os perigos eram alguns. A escolta era feita ao principio da
manhã, logo não iríamos ter a sua proteção.. Mas quem é que
pára a força e a vontade de jovens irresponsáveis?
Paramos no Dala, onde
almoçamos. Até aqui quem conduziu a viatura foi o seu dono. No
reinicio da viagem ele deu a quem quisesse, a possibilidade de fazer
a restante condução, do veículo, até ao destino. Eu recusei,
embora encartado, o Zé Fernandes também. Quem o fez foi o Zé
Henriques. O civil passou para o banco traseiro e posicionou-se no
lado direito. Viagem sem problemas e no final, ele conhecedor da
zona, com um certo tom de “gozo” disse-nos o porquê da sua
atitude: quando havia ataques às viaturas eles costumavam acontecer
do lado esquerdo das mesmas, ao passarem na zona da chamada serra
do Bussaco. Ainda bem que nada aconteceu, eu ia desse lado.
Chegados à cidade do
Luso, fomos encaminhados por ele para um Bar, que não era mais nem
menos do que um bar de alterne, pois “senhoras” havia
algumas e todas muito simpáticas..... Pelo maneira que fomos
recebidos fiquei com ideia que ele seria um cliente habitual.
Tomámos café e um bebida e após algum tempo de permanência
resolvemos sair, mas ele ficou.
Visitamos a cidade e
arranjamos uma pensão para dormir. À hora do jantar fomos ter com
ele para nos acompanhar no mesmo. Nada conseguimos; disse-nos que
comeria por lá qualquer coisa, dado que não tinha muito apetite. A
nosso pedido abonou-nos um valor suficiente para fazermos face às
despesas da pensão, da refeição e do combustível para o
regresso.. Não o procuramos mais pois vimos que estava no seu
“mundo”.
No dia seguinte, dia
de regresso, tínhamos de vir incorporados na coluna militar, tenho a
ideia que a partida foi às seis horas da manhã e era feita pelos
Dragões. Fomos informados que sempre que a mesma foi feita por aqueles
militares que nunca tinha havido problemas, portanto tudo seria
calmo. Assim foi.
É nesse momento que o
nosso companheiro de viagem nos aparece. A viatura estava em nosso
poder e o depósito já atestado. Para ele deve ter sido, pelas suas
palavras, uma noite bem passada (?), vinha um pouco enjoado e com
poucas falas.
Chegamos ao Dala, fim
da coluna militar, ficamos à nossa responsabilidade. Fomos tomar o
pequeno-almoço e tivemos que ser nós a pagar o mesmo, até o dele,
pois nada tinha na carteira.
Reiniciamos a viagem e
com calma chegamos a Henrique de Carvalho. Não tinham dado pela
nossa falta, Antes da partida pedimos a camaradas nossos para que nas
formaturas respondessem por nós, caso houvesse necessidade. Também
pelas nossas especialidades a algumas estávamos dispensados.
E foi assim, com um
pouco de irresponsabilidade que tivemos dois dias diferentes, com
algum prazer e que me ficou na memória.
(Carlos Amaral)