sábado, 11 de novembro de 2017

CABELO, BARBA E BIGODE


Todos nós, militares do nosso Batalhão, passamos pelos chamados anos Sessenta do Sec XX. Esses anos fizeram parte do que muitos consideram ser uma das principais décadas desse período. Em todo o mundo ocorreram factos relevantes para a Humanidade.

Foram muitos, com destaque para alguns: a chegada do Homem à Lua; o assassinato do Presidente Kenneddy: a guerra do Vietname; foi morto Luther King Jnr.; Mao Tse-Tung, na China, lançou a Revolução Cultural; ocorreu na Africa do Sul o primeiro transplante de coração; a IBM lançou o seu primeiro computador; foi construido o Muro de Berlim, etc, etc
Chegada do Homem à Lua

Em Portugal vivia-se num clima nada favorável para a sua população. O regime político da época assim o proporcionava. O abismo social era grande e mais se começou a notar nesta década. Uma solução passava pela emigração. Estima-se que Um Milhão e Trezentos Mil pessoas o fizeram. A este fenómeno juntou-se a deslocalização de muita gente do interior para junto das cidades, mais industrializadas, à procura de trabalho, o que ocasionou a desertificação de grande parte do nosso território. Hoje, ainda, é notório o resultado dessas iniciativas. Os estudantes começaram a organizar manifestações contra poder político, etc, etc.

Além do atrás mencionado começou a Guerra do Ultramar, e aqui começou outro problema para os nossos jovens: o serviço militar era obrigatório e poucos escapavam à mesma, só mesmo aqueles que desertavam ou não se apresentavam, conforme lhes era exigido.

Vivíamos num País sem liberdade, mas mesmo assim haviam certas modas que eram toleradas. Estávamos no período áureo do Beatles e dos Hippies e daí resultava uma tendência, generalizada, nos jovens para usarem o cabelo comprido. Mas no serviço militar isso não era permitido, mas sim o contrário: cabelo curto e cara limpa. Esta regra foi-nos imposta e quem não a cumprisse, minimamente, podia ter dissabores. Acontecia muitas vezes as dispensas de saída serem cortadas a quem não estivesse em tal situação. Como castigo, em muitos casos sem grandes motivos, eram os militares obrigados a cortar o cabelo à “escovinha”. Tal atitude, pouco abonatória e até vexante, motivava que quem a sofria, evitar de ir passar o fim se semana a casa, pois ao apresentar-se assim demonstrava ter sofrido um castigo. Isto passava-se em relação ao cabelo, quanto às barbas e bigodes nada acontecia, pois ninguém arriscava deixar crescer tais decorações faciais.

Exemplo de um corte militar
Os Beatles



Exemplo de Hippies

No Ultramar tais castigos não aconteciam, pois aí o pessoal rapava o cabelo, voluntariamente, com a ideia que tal procedimento era saudável. Havia sempre quem exagerasse no tamanho do mesmo, mas nada de mais, e lá se ia andando. Mas barba e bigode continuava a não ser permitido. Para o caso do bigode, recordo-me, que em certa ocasião ter havido uma viabilidade para se usar, mas sujeita a regras: bigode militar como as normas e para tal teria de se apresentar um desenho ou um croqui do que se pretendia. Claro ninguém se mostrou interessado.

Com o passar do tempo, e o fim da comissão à vista, usar bigode foi permitido sem grandes regras, mas dentro do razoável. Aqui deu-se uma explosão de “bigodistas”, pois talvez metade ou mais da Companhia deixou de rapar o lábio superior. Eu, como na vida civil já usava tal enfeite, aproveitei, a facilidade, e no dia 5 de Março de 1972 mudei o meu visual. Poderei aqui deixar uma confidência: a partir dessa data nunca mais o meu lábio teve a sensação de sentir uma lamina. Coisas da vida!!!!

Mas como sempre o fruto proibido é o mais apetecido, e com o aproximar da viagem de regresso os ditos bigodes foram desaparecendo, pois todos queriam chegar junto dos seus com as caras lavadas. Os cabelos, esses todos deixaram crescer um pouco mais do que as normas exigiam.


Texto: Carlos Amaral

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