quinta-feira, 14 de maio de 2020



LUANDA / HENRIQUE DE CARVALHO / 1970

Desembarcamos no cais desta cidade no dia 07 de Maio, era Quinta-Feira e fomos levados para o Campo Militar do Grafanil, onde permanecemos até sermos transportados para Henrique de Carvalho. Entretanto, tivemos permissão de sair para visitarmos a cidade no Sábado seguinte. O mesmo foi acontecendo nos restante dias. Na Segunda-Feira, dia 11, levaram todo o Batalhão a visitar uma fábrica de cerveja, se não me falha a memória foi à que produzia a marca CUCA.

Chegou finalmente a data da nossa partida. Foi no dia 15, Sexta-Feira. A nossa Companhia não seguiu toda, só sensivelmente metade. O restante pessoal teve de aguardar até ao dia 23. Por volta das cinco horas da manhã, tínhamos à nossa espera, vários autocarros, civis, para fazerem o nosso transporte. Desde o dia anterior a nossa ansiedade já era muita. Começámos a ter a noção de que já respirávamos e nos encontrávamos em ambiente de guerra. Distribuíram-nos uma arma, cem munições, um capacete,  um cantil e outras coisas mais, para qualquer eventualidade que surgisse. Felizmente nada aconteceu, mas o medo estava entranhado em todos nós.

A primeira noite foi dormida em Malange e a segunda no Cacolo. Passamos por localidades como Dondo, Lucala, Cacuso e várias outras. Nos locais  em que parávamos,   constatávamos a miséria das suas populações. Éramos logo rodeados por miúdos a pedirem comida, a fome era muita. Lá distribuíamos algumas bolachas e latas de conserva, que faziam parte das rações de combate que nos tinham fornecido, para nos alimentarmos durante a viagem. 

Chegamos finalmente a Henrique de Carvalho no Domingo, dia 17, ao início da tarde.



(Carlos Amaral "As minhas memórias")






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