HENRIQUE DE CARVALHO
Para quem gosta de história passamos a seguir, completando o já publicado, algo mais sobre a personalidade que deu o nome à cidade onde permanecemos, durante a nossa campanha militar na antiga província portuguesa de Angola.
Nome completo: HENRIQUE AUGUSTO DIAS DE CARVALHO
Frequentou o Colégio Militar
(Aluno nº 143/1853)
Frequentou a Escola do
Exército
Major do Estado Maior de
Infantaria – Explorador (1843 – 1909)
Expedição à região da Lunda, no Leste de Angola, entre 1884
e 1888
v
Introdução:
No longínquo ano de
1972, aquando da minha estadia em Henrique de Carvalho, a par da
nossa tropa, estudava nas horas vagas no Liceu da cidade. A reitora
recebeu nesse ano o neto, ou bisneto, do famoso explorador Henrique de Carvalho
e eu, muito atento, anotei o seu discurso direccionado ao seu ascendente e aos
seus feitos...
Sempre fui
fervoroso por conhecer os grandes sertanejos africanos, tanto portugueses como
estrangeiros, e entre muitos destacaram-se: Livingstone, Stanley, Braza,
Cameron, Silva Porto, Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e, por
fim, Henrique de Carvalho – o homem que deu nome à cidade.
Este explorador,
sertanejo, Governador da Lunda, merece ser lembrado por nós, mesmo quarenta
anos após termos pisado aquele chão Africano. Eis alguns apontamentos:
v
Contexto
histórico:
Em finais de
Oitocentos, face à investida das restantes potências Europeias, Portugal vê
ameaçados os seus territórios Africanos, cuja ocupação se limitava à costa e
que assentava tradicionalmente na invocação dos “direitos históricos”.
Sem meios militares ou
económicos que lhe permitiam ombrear com os restantes competidores, desperta o
Estado português a consciência do “apertado cerco que nos estão pondo as
principais nações da Europa”.
Neste apertado cerco
conjugam-se as expedições Alemãs e Belgas que se dirigiram para a Lunda na
segunda metade do séc. XIX.
Alarmado pelo curso
dos acontecimentos, o governo Português empenha-se a partir de 1884 na
construção de um caminho-de-ferro que ligasse Luanda – Ambaca, um conhecido
entreposto comercial entre o interior de Angola e a costa. Procurava-se
sobretudo estabelecer laços comerciais directos com o Império Lunda, fonte
tradicional de matérias-primas (cera, marfim, borracha), e que até então se
encontrava isolado, alvo de um bloqueio exercido por parte dos Mbangalas.
Estabelecidos na região de Cassanje, estes impediam um contacto directo com os
Europeus, ao assumirem-se como intermediários comerciais entre os sertanejos e
o território de MUATIÂNVUA.
v
A
Expedição:
É precisamente neste
contexto que surge, em 1884, a viagem do militar Henrique de Carvalho à Lunda.
Relativamente ao
Muatiânvua, pedia-se que este fosse persuadido a celebrar um tratado de amizade
e comércio com Portugal.
A expedição partiu do
entreposto comercial angolano de Malanje em Julho de 1884. Era chefiada por
Henrique de Carvalho, militar com vasta experiência colonial, e tinha como
subchefe o Major Agostinho Sisnando Marques, farmacêutico e ex-director do
Observatório Metereológico de S. Tomé. Seguia também como ajudante o Tenente
Manuel Sertório de Almeida Aguiar, bem como os indispensáveis carregadores
recrutados localmente e alguns ambaquistas, que operavam sobretudo como guias e
intérpretes.
O itinerário foi
delineado em Malanje pelos irmãos Custódio e Saturnino de Sousa Machado,
comerciantes sertanejos de longa data e por isso conhecedores dos caminhos
interiores.
Foi sugerido um
“caminho novo pelo Nordeste que, partindo de Malanje, ia atingir o rio Cuango
na zona de confluência com o rio Lui, seguindo daí para o Cassai”. Depois,
seguiria para Sul, em direcção à Mussumba.
A expedição avançou
dividida em duas secções, dirigidas respectivamente pelo chefe e pelo subchefe.
Uma das secções seguia à frente, fundava uma “estação civilizadora”, e aí
permanecia algum tempo, estabelecendo relações de confiança com os locais.
Estações essas em que Henrique de Carvalho terá realizado parte das suas
observações e recolhas etnográficas.
Quando a primeira
secção partia, chegava a segunda para dar continuidade ao trabalho.
À medida que avança em
direcção à Mussumba, Henrique de Carvalho apercebe-se de que o
Império Lunda atravessa uma fase conturbada. Os entraves postos a partir de
1850 pelo Estado português ao tráfico de escravos em Angola foram um rude golpe
para a economia Lunda, que dependia grandemente dessa actividade. Dividido por
lutas de poder internas, o Estado Lunda via o seu território consideravelmente
reduzido pela expansão para Norte dos povos Chokwe.
Passados cerca de dois
anos, em Janeiro de 1887, a expedição encontra-se finalmente em Mussumba. No
dia 18 desse mês “celebra-se um tratado pelo qual o Muatiânvua e a sua corte
reconheciam a soberania de Portugal e se comprometiam a não aceitar nas suas
terras outra bandeira”.
Este sucesso não foi
contudo, duradouro. Cinco dias após a assinatura do tratado, um grande fogo
destruiu grande parte da Mussumba, levando à debandada de milhares de pessoas,
incluindo a Corte Lunda. Henrique de Carvalho apercebe-se de que só lhe resta
partir. Esperava-o uma longa viagem de regresso, em que a expedição tem de
contornar diplomaticamente a agressividade dos Chokwe, e a cíclica falta de
provisões e medicamentos. No decurso da viagem, iam chegando notícias
inquietantes de Malanje: no contexto da Conferência de Berlim, fora criado o
Estado Independente do Congo (1884), o que significa a perda da região Angolana
do Lubuco para a Bélgica.
v
Henrique
de Carvalho e o Muatiânvula
Se os objectivos
políticos e comerciais da expedição não tinham sido alcançados, ficara
assegurada uma recolha de carácter etnográfico que testemunha ainda hoje uma
visão muito particular sobre a Lunda dos finais do séc. XIX.
v
Dispersos
Históricos:
- Carvalho na sua primeira
estada em Angola (1878/1882) foi responsável pelas obras públicas em Luanda
- Em 1884 e, em Malanje,
Henrique Dias de Carvalho preparava a sua expedição.
- Carvalho contratou doze
carregadores em 9 de Junho de 1884 em Luanda, para a sua grande expedição à
Lunda, dez dos quais o acompanharam até ao Calanhi e regressaram com ele.
v
Caravana
mercantil no Dondo
- Henrique de Carvalho
encontrou algumas caravanas Mbangalas nos domínios do Caungula Muteba, junto ao
Lóvua, em cujas proximidades permaneceu três meses com a sua expedição, em
finais do ano de 1885.
- Numa dessas caravanas
participava também o chefe (Ambaza) QUINGURI, da margem direita do Cuango, aí
chegado em meados de Dezembro de 1885, cuja residência se situava a um dia de
viagem da estação comercial de Cassanje, junto ao Quinguixi, um afluente do
Cuango. Quinguri, permaneceu com Carvalho durante vários meses. Alegava ser um
descendente do primeiro Jaga (título dos governantes Mbangalas) e, portanto, de
Lueji, a mãe do primeiro Mwant Yav do Estado Lunda e era um pretendente à
sucessão dos Jagas no Cassanje.
- Em Outubro de 1887, Manuel
Correia da Rocha, conhecido por Calucâno, chegou a Malanje com Carvalho,
tendo-se instalado com a sua gente algures nas imediações.
- Henrique de Carvalho,
explorador português, foi contemporâneo de outros exploradores alemães – Paul
Pogge (1875/1876) e Max Buchner (1879/1880).
- António Bezerra acompanhou a
grande expedição de Henrique de Carvalho à Lunda como “primeiro intérprete” nos
anos de 1884/1888.
- Como António Bezerra conhecia
como ninguém as regiões situadas a Leste do Cuango, pôde prestar a Carvalho
informações preciosas sobre as rotas a seguir ou a evitar, as diversas
populações, suas opiniões, sua história, suas relações comerciais e seus
costumes. Agostinho Alexandre Bezerra, participou na expedição de quatro
anos de Henrique de Carvalho à Lunda (1884/1888) como segundo intérprete.
- Em 1896, quando Carvalho
voltou à região dos Mbangalas como Governador da Província Lunda, Quinguri já tinha falecido.
(Texto e foto da página da Liga
dos Amigos do Colégio Militar
www.lacm.org.pt)
Nota do Blog - Embora na crónica que apresentamos seja referida a patente de Major, Henrique de Carvalho atingiu a de General.
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